Ai, dona fea, fostes-vos, queixar
que vos nunca vouén[o] meu cantar;
mais ora quero fazer um cantar
en que vos loarei toda via;
e vedes como vos quero loar:
doa fea, velha e sandia!
Dona fea, se Deus mi pardon,
pois avedes [a] tan gran coraçon
que vos eu loe, en esta razon
vos quero já loar toda via;
e vedes qual será a loaçon:
doa fea, velha e sandia!
Dona fea, nunca vos eu loei
em meu trobar, pero muito trobei;
mais ora já un bon cantar farei,
en que vos loarei toda via;
e direi-vos como vos loarei:
dona fea, velha e sandia!
(Joan Garcia de Guilhade, séc XII, Penísula Ibérica)
Uma mulher queixou-se com o poeta por ela não ser protagonista das cantigas de amor que ele trovava - lembrando que nas cantigas de amor, o poeta idealizava a mulher como uma santa (cristã) com pele branca, delicada, rosto rosado e bonita. O poeta sabendo que a queixa era desproposital fez essa cantiga satírica parodiando uma cantiga de amor da época. "Dona feia, velha e louca."